domingo, 14 de junho de 2020

Somos todos livres ?



A liberdade ofende, como dizia Lispector. A liberdade incomoda muito mais que a riqueza ou a beleza, porque a liberdade é a plenitude.
 A liberdade é o não-bem mais precioso, que muitas vezes sequer chega a existir em algumas pobre ricas vidas. 
A liberdade é tão cara, mas tão cara que não se pode comprá-la. A liberdade locomotiva depende da justiça, enquanto a liberdade psíquica depende do seu bem-estar espiritual. 
E quem aqui está bem consigo mesmo? 
A liberdade dói aos olhos de quem não a possui. A Liberdade de ser o que você quiser. Liberdade de estar com quem quiser. Liberdade de estar onde você quiser... de fazer ou não fazer o que quer. 
Invejem-me em tudo, menos a liberdade, pois sinceramente, não a possuo. 
Ainda dependo dos sonhos e das noites para alcançá-la, mesmo que efemeramente. Ainda preciso furtá-la em curtos cheiros, curtos pelos e curtos toques. Tenho-a apenas em rápidos e secretos sabores e desabores. 
Eu ainda busco a liberdade, tentando pertencer a mim mesma. Sim, esse é o primeiro passo. 
A liberdade excita-me, assim como esporádicos toques úmidos de glândulas sub-linguais, por trás de luzes trêmulas, de cortinas caras ao anteceder do pôr do sol. 
Mas, talvez a liberdade seja apenas uma ilusão, assim como o amor. Talvez buscamos a liberdade de maneira errônea.
Ou talvez a liberdade e a felicidade sejam exatamente a mesma coisa inatingível em nossas miseráveis vidas. 
Ou talvez ela seja apenas um suspiro, assim como o orgasmo. Ou talvez, ela sequer exista! E eu esteja aqui apenas a filosofar sobre algo que, na verdade nunca poderemos ter. Seria ela uma mera utopia? 
Estamos presos a nós mesmo. E isso já nos basta para nos sentirmos amarrados? Estar sozinho te faz um lixo ou um luxo? Te satisfaz ou te aterroriza? 
Será que somos de todo livres ou de todo presos? Presos a relacionamento expirados, a trabalhos indesejados, a obrigações que não gostamos, mas que nós mesmo criamos... 
Talvez a única coisa realmente livre seja o vento. Pois nós, seres(que pensam ser)humanos, estamos sempre presos a algo ou alguém, muitas vezes por egoísmos ou soberba; por ilusão ou por necessidade. 
Ou o mais provável: liberdade advém com a morte. Aí sim, tudo faz mais sentido. Pois a morte é o sentido e o objetivo de tudo. 
Sejamos livre, na medida do que nos permitimos. 

Samanta Lemos
14/06/2020