sábado, 28 de agosto de 2021

Seremos todos julgados?

Tenho amor pela vida. Não vivo por viver. 

Vivo por amar a mim, assim como o sol o entardecer. 

Nascemos para morrer. Por que tanta frustação? 

Basta dizer-se mais sim, do que viver dizendo não.

No meu enterro não quero choro, nem caixão com floreiras. 

Eu só quero que toquem música e me enterrem ao pé de uma mangueira.

Viva enquanto puder, mas na sombra das suas vontades. 

Não se importe com o que os outros digam. Não viva pela metade. 

Entenda que nesse mundo, viemos e iremos sozinhos. 

A vida é só uma passagem. Não se perca no caminho.

Daqui não levamos nada, não adianta acumular. 

O que nos torna humanos é a ação de ajudar. 

Pois no fim de tudo, estamos todos conectados. 

A fome do outro, um dia cai no seu telhado. 

O orgulho, inveja e ciúme é coisa de gente pequena.

Se não expressar sua bondade, sua alma só se apequena. 

E depois da morte, será só você e Deus. 

Não interessa se foi cristão, muçulmano ou judeu.

Você será julgado, não pelas horas que orou. 

E sim pelo bem ou mal que praticou.

Não esqueça que o amor, quase tudo justifica. 

Caberá ao criador, julgar o que te apetecia. 

Assim, viva, viva e viva. Não se importe com rumores. 

Não se remoe, não se amargure. Perdoe a si e aos outros. 


Samanta Lemos 

05/02/21

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Blue bird


Eu sou esse pássaro azul que você trancou nas suas entranhas e não deixa ninguém ver. 

Eu sou esse pássaro azul, que você mantém dentro de grandes, atrás dos músculos rígidos do seu peito.

Eu sou esse pássaro azul que você afoga com whisky barato enquanto você sorri e acende o carvão para o churrasco.

Eu sou esse pássaro azul, que na verdade é vermelho, de tanto estar sufocado e preso, enquanto você conduz o seu carro e finge que está bem.

Eu sou esse pássaro azul que enxuga as suas lágrimas mesmo antes delas caírem. Afinal você é homem, e os homens não choram. Não é mesmo? 

Eu sou esse pássaro azul, que você mantém refém do seu orgulho e dos seus medos. 

Eu sou esse pássaro azul que bagunça a sua vida, e ao mesmo tempo dá vida a sua bagunça.

Eu sou esse pássaro azul que as vezes foge à noite, enquanto você assiste o noticiário. Aí você deixa ele sobrevoar em todos os cantos da sua sala. 

Eu sou esse pássaro azul que poderia estragar os seus trabalhos, que poderia mudar os seus planos, em troca de uma vida inteira de amor. Mas você, ainda prefere a dor.

Eu sou esse pássaro azul que vive dentro do seu peito, mas assombra a sua mente, enquanto você finge que é feliz, mas só mentes. 

Eu sou esse pássaro azul que as vezes você fecha os olhos e sente ele oxigenar o seu coração, mesmo que você não queira.

Eu sou esse pássaro azul que também sofre por estar dentro de uma gaiola, mesmo sabendo que a gaiola está dentro de você. 

Eu sou esse pássaro azul que as vezes fica negro, quando você foge e tenta fingir que ele não existe. 

Eu sou esse pássaro azul que a noite olha a lua através da janela da gaiola e sente que esse pacto é mais covarde do que pode aparecer. 

Eu sou esse pássaro azul que conhece você por dentro, e sabe que você também é um passarinho preso.  

O que você pode fazer com esse pássaro azul? Por que você não abre a janela e deixa ele livre? Ou por que você não voa junto com ele?

Até quando você esconderá as suas asas? 

O teu peito é o meu ninho. 

Samanta Lemos

(Uma homenagem a Charles Bukowski)



terça-feira, 10 de agosto de 2021

Se eu morresse amanhã


Se eu morresse amanhã, eu me transformaria no vento só para bater fortemente nas suas janelas. 
Se eu morresse amanhã, eu seria a chuva, só para regar o seu jardim.

Se eu morresse amanhã, eu seria o sol, que te aquece sem te tocar.

Se eu morresse amanhã, eu seria a terra, só para semear a comida que te alimenta.

Se eu morresse amanhã, eu seria a nuvem que faz sombra sobre o seu corpo.

Se eu morresse amanhã, esqueceria todos os ontens que outrora não estiveras. 

Se eu morresse amanhã, despir-me-ia de todo o meu orgulho só para chorar do nascer ao pôr do sol. 

Se eu morresse amanhã, eu seria um mosquito, só para beber uma gota do seu agridoce sangue. 

Se eu morresse amanhã, eu seria o fogo, só para acender o seu cigarro. 

Se eu morresse amanhã, eu seria o couro que reveste o seu sofá, só pra te aconchegar enquanto você assiste televisão.

Se eu morresse amanhã, eu seria uma lágrima, só para escorrer pelo seu rosto.

Se eu morresse amanhã, eu seria um relógio, só pra você me olhar a cada hora.

Se eu morresse amanhã, eu seria água que mata a sua sede.

Se eu morresse amanhã, esperaria você na estratosfera.

Se eu morresse amanhã, seria a mais triste de todas as canções outrora já cantadas. 

Se eu morresse amanhã, eu seria uma rosa, só para te espetares nos meus espinhos enquanto aprecias o meu aroma. 

Se eu morresse amanhã, eu seria a lua que silenciosamente ilumina o seu quintal. 

Se eu morresse amanhã, eu seria o ar que você respira. 

Se eu morresse amanhã, sucumbiria a todas as falácias do mundo só para inexistir diante da sua despresença. 

Se eu morresse amanhã, já não faria diferença nenhuma. Pois eu já morri no exato momento em que te perdi.  

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

O que somos?


Somos a soma de todos as nossas dores e amores. 

Somos o reflexo de tudo o que vivemos e não tivemos. 

Somos as cores do neutro, a sombra do dia e a luz da escuridão. 

Somos os sons de todos os tambores e o agridoce dos nossos dissabores. 

Somos o que o sol cega e o que o luar ilumina. 

Somos o gelo que queima, depois do que o fogo incendeia. 

Somos as decências das dúvidas e a tempestividade das certezas. 

Somos a dignidade da ignorância e a arrogância da inteligência. 

Somos aquilo que pensamos ser, não aquilo que sonhamos. 

Somos a subida quando o medo desce. 

Somos amor quando o orgulho padece. 

Somos a eternidade, quando o fim nos ronda. 

Somos loucura quando o desejo estronda.

Somos pura capacidade nos impuros desafios. 

Somos crianças quando pensamos estar velhos. 

E somos velhos quando descobrimos que, em verdade, nunca deixamos de sermos crianças. 

Somos loucos quando não acreditamos na loucura. 

E somos sãos, quando descobrimos que somos loucos. 

Somos esfomeados quando não temos comida.  

E as vezes somos a comida das mentes esfomeadas. 

Somos inimigos no ápice das amizades.

Somos amigos quando conhecemos o nosso inimigo. 

Somos coerentes somente na incoerência.

Somos incoerentes nas certezas absolutas.

Somos guerreiros quando o orgulho é ferido. 

Somos feridos quando ganhamos sem nenhum batalha.

Somos tudo no meio do nada.

Somos nada quando temos de tudo. 

Somos as folhas que o vento leva. 

Mas as vezes, somos exatamente o vento que derruba as folhas. 

Mas eu prefiro ser o vento que derruba as sementes. 


Samanta Lemos

04/07/2021