terça-feira, 17 de agosto de 2021

Blue bird


Eu sou esse pássaro azul que você trancou nas suas entranhas e não deixa ninguém ver. 

Eu sou esse pássaro azul, que você mantém dentro de grandes, atrás dos músculos rígidos do seu peito.

Eu sou esse pássaro azul que você afoga com whisky barato enquanto você sorri e acende o carvão para o churrasco.

Eu sou esse pássaro azul, que na verdade é vermelho, de tanto estar sufocado e preso, enquanto você conduz o seu carro e finge que está bem.

Eu sou esse pássaro azul que enxuga as suas lágrimas mesmo antes delas caírem. Afinal você é homem, e os homens não choram. Não é mesmo? 

Eu sou esse pássaro azul, que você mantém refém do seu orgulho e dos seus medos. 

Eu sou esse pássaro azul que bagunça a sua vida, e ao mesmo tempo dá vida a sua bagunça.

Eu sou esse pássaro azul que as vezes foge à noite, enquanto você assiste o noticiário. Aí você deixa ele sobrevoar em todos os cantos da sua sala. 

Eu sou esse pássaro azul que poderia estragar os seus trabalhos, que poderia mudar os seus planos, em troca de uma vida inteira de amor. Mas você, ainda prefere a dor.

Eu sou esse pássaro azul que vive dentro do seu peito, mas assombra a sua mente, enquanto você finge que é feliz, mas só mentes. 

Eu sou esse pássaro azul que as vezes você fecha os olhos e sente ele oxigenar o seu coração, mesmo que você não queira.

Eu sou esse pássaro azul que também sofre por estar dentro de uma gaiola, mesmo sabendo que a gaiola está dentro de você. 

Eu sou esse pássaro azul que as vezes fica negro, quando você foge e tenta fingir que ele não existe. 

Eu sou esse pássaro azul que a noite olha a lua através da janela da gaiola e sente que esse pacto é mais covarde do que pode aparecer. 

Eu sou esse pássaro azul que conhece você por dentro, e sabe que você também é um passarinho preso.  

O que você pode fazer com esse pássaro azul? Por que você não abre a janela e deixa ele livre? Ou por que você não voa junto com ele?

Até quando você esconderá as suas asas? 

O teu peito é o meu ninho. 

Samanta Lemos

(Uma homenagem a Charles Bukowski)



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